P.A.D.A.: 40 ANOS PUBLICANDO HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

 

(Capa do Prismarte nº 4, de setembro de 1989)

Continuando o Arquivo da P.A.D.A., ressalto que não são mais 39 anos. Nesse ano de 2024, em abril, serão comemorando os 40 anos de existência e resistência dessa equipe, desde a formação original, o início na fanzinagem e as transformações que sofreu ao longo dos anos.
Uma viagem no tempo que vale muito a pena conhecer.

Por José Valcir
Quadrinhista

Nessa linda capa, originalmente criada pelo quadrinhista Jaidelson Maurício de Souza, das HQs Mediterrâneo, Conexa: Terra e Herdeiros da Terra, esta escrita por André Gomes Torres, para o número 4 do fanzine Prismarte. Ainda estávamos aprendendo a editar, diagramar, selecionar material e a máquina de escrever, nessa época, foi imprescindível.

A trajetória da Produtora Artística de Desenhistas Associados - P.A.D.A., nesses quase 40 anos foram marcados pela inserção na fanedição. O intercâmbio entre editores de fanzines e outros quadrinhistas foi muito forte nessa época. Troca de informações, política de quadrinhos e aproximação com artistas já atuantes no mercado, como o roteirista Júlio Emílio Braz, Zenival, Roberto Câmara, Wilde Portela, Mário Paciência e Libório, além do já citado Lailson de Holanda Cavalcanti, sempre foram de suma importância para nosso trabalho como editores e fomentadores de quadrinhos.

As Histórias em Quadrinhos sempre nos atraiu como leitores. Admirar os desenhos realizados pelos artistas era incrível, mas nosso retorno para uma nova publicação também estava associada ao bom roteiro que líamos. Isso também nos motivou em criarmos nossas próprias histórias e ter um local onde publicá-las, era o caminho a ser seguido. Não deu certo com uma editora, mas ao decidirmos termos controle sobre aquilo que nós passaríamos a publicar, foi muito melhor.

(Na página acima, é perceptível que a diagramação evoluiu)

Como em todo processo, os membros padistas evoluíam e era perceptível na diagramação dessa edição 4. A capa de Jaidelson brinca com o preto e o branco ao mesmo tempo, obrigando aos irmãos Marins, Marco e Milson, com recursos manuais, conseguir o contraste exato desses dois tons. Umas das capas mais elegantes já publicada na Prismarte.

O editorial escrito na época por Milson, tratava da importância do conteúdo nas 'agaquês'. Não era só o desenho pelo desenho, mas que o roteiro fosse peça fundamental de uma história e que trouxesse o leitor para conhecer o próximo número. Naquela década já aspirávamos o profissionalismo. Já havia a vontade de irmos além da fanedição e atingir o mercado profissional seria um sonho a ser alcançado ainda muito a frente.

Nessa edição, já convidava o leitor em participar da seção de cartas, um índice e um expediente.

Porém, o caminho ainda seria longo. E os desafios idem. Mas isso ainda é uma outra história a ser contada.

(Continuando com a série O Mundo da HQ, por Milson Marins)

Nossa linha editorial, seguia-se bem planejada e o leitor sabia o que encontraria a cada edição. O Mundo da HQ, pesquisado por Milson nas enciclopédias Barsa, Mirador, e revistas e jornais, eram as fontes seguras para difusão dos quadrinhos aos pernambucanos, que pesquisávamos na Biblioteca Pública Castello Branco, próximo ao Parque Treze de Maio, no centro do Recife, PE.

(Na HQ Fuga, o tema é o medo da morte)

O quadrinhista Marco Marins traz para essa edição a HQ Fuga. Muito interessante porque o medo da morte é algo inerente ao homem, independente de época e o avanço tecnológico que possa existir. O homem impotente diante de um fato irreversível da vida. Mesmo buscando encontrar-se, perder-se-á nos devaneios, ao tentar encarar a finitude de uma vida ou o sentido para ela ao invés de encará-la como única certeza. A soberba, que esconde o medo, e o afasta do único amor que, verdadeiramente, encara isso de frente.

(Na HQ Tá na hooora!, e o controle da televisão sobre as pessoas)

A primeira parceria entre o roteirista José Valcir e desenhista Marco Marins na HQ Tá na Hooora!, tratou do controle da televisão sobre as pessoas. Quanto a perspectiva e diante das novas mudanças tecnológicas, as mídias continuam exercendo forte influência sobre as pessoas. Seja por serviço de streaming ou canais no YouTube e redes sociais. O ser humano é atraído por essas mídias por mera diversão ou busca por informação. Será que o escocês Logie Baird, em 1926, imaginou que a criação dele influenciaria tantas pessoas? Acredito que não.

(Em 1989, chegava às telas de cinema Justiceiro, com Dolph Lundgren)

Na sua estreia nas páginas dessa edição, o quadrinhista Walmir Sabino escreve a matéria sobre o Justiceiro, filme que chegava às telas em 1989, com o ator Dolph Lundgren, com o título A Justiça Vai às Telas. Na época, o personagem estava na Marvel e no Brasil. A ida ao Cinema atiçou a efervescência dos fãs dos quadrinhos em poder ver um personagem de papel em carne e osso projetado numa tela. Foi um momento singular naqueles dias.

(Em Sorte?, a HQ questiona a existência desse fenômeno)

Na sequência, Walmir Sabino tem sua primeira HQ publicada nas páginas do Prismarte, intitulado Sorte? Um trabalho ainda embrionário, porém com grande expectativa de crescimento. Mas um artista que sumiu como areia no tempo.

(Desenho Animado é um storyboard do animação)

Através do curso de Animação, ministrado nos estúdios da TV Universitária, da UFPE, em 1989, Marco Marins apresentou aos componentes da P.A.D.A., Arnaldo Luiz, cujo storyboard de animação para conclusão de curso teve a oportunidade de ser publicado nas páginas do Prismarte. Arnaldo já chegou pronto, com personagens, quadrinhos e ideias prontas para serem publicadas. Um traço bem avançado, verve humorística numa dosagem perfeita. A dupla de personagens criada por ele,  Mino Tauro & Tampinha, as tiras do Aldo, Ernesto, Esquadrão Agakê, etc., são exemplos da veia criativa desse artista ímpar.

(A P.A.D.A. iniciou a campanha HQ agora é Arte!)

Com a ilustração de Carlos Araújo, iniciamos a campanha HQ agora é Arte!, no intuito de criar uma corrente entre os faneditores entorno do fortalecimento da produção de HQB, em detrimento dos comics. Todavia, uma batalha contra um gigante muito bem estruturado ao longo das décadas.

(Sonho Passageiro, poesia de Marco Marins)

Da série Muralhas da Solidão, que buscava trazer às paginas do Prismarte poesia, Marco Marins apresenta Sonho Passageiro, que trata de tempo e solidão. Para uma estreia, essa incursão inicial foi bastante interessante. A ilustração ficou a cargo do próprio autor do poema.


(Não só de quadrinhos viveu o Prismarte)

Mais um que sumiu com as areias do tempo, o cartunista Muca teve a primeira e única oportunidade de publicar o cartum Comeu-Morreu. Infelizmente, depois dessa publicação, ele preferiu seguir outro caminho que não foi a dos quadrinhos.

(A extinta Livro 7 continuava nos apoiando)

Uma livraria que deixou saudade para todos os leitores pernambucanos foi a Livro 7, do saudoso livreiro Tarcísio, morto aos 73 anos pelo Covid-19 em 2021. Sempre apoiou as manifestações culturais de todos artistas, escritores. Era dono da maior livraria do Brasil em metro quadrado e ganhador da chave da cidade do Recife. Uma história de sucesso para um homem que veio do interior do Rio Grande do Norte enriquecer com conhecimento o povo pernambucano.

(A tira humorística do ingênuo Ernesto)

Arnaldo Luiz, em sua estreia também teve a chance de publicar a tira Ernesto. Um artista muito criativo e de  produção incomparável. Sempre muito requisitado e ponderado nas observações que sempre fez. Na tira acima, o leitor divertia-se com a ingenuidade do personagem sobre um inseto que o sobrevoava até ser alertado por um transeunte. Mais uma prova da inesgotável capacidade criativa desse modesto artista.

(Na contracapa, anúncios para HQ Comandado pela Loucura e o fanzine Croquis)

Encerrando aquela edição do Prismarte nº 4, de setembro de 1989, a chamada para HQ Comandado pela Loucura, escrita e desenhada por Milson Marins, após ouvir as experiências do irmão Marco sobre histórias da taverna e filmes de ação. Com muita ação e aventura de tirar o fôlego, o leitor começava a conhecer a evolução nas histórias que a P.A.D.A. começava a publicar: um sinal da evolução artística dos membros, que cresciam a medida que trocavam ideias sobre processo criativo e fortalecia a união como artista de quadrinhos.

Outrossim, foi o anúncio do lançamento do fanzine Croquis nº 1, de André Gomes Torres, que focaria em histórias somente de Ficção Científica e Fantástica, surgindo como um novo título e trazendo novas expressões artísticas, durando exatos três números e uma trilogia inesperada e involuntária na capa. Uma prova que essa edição inovaria em proposta e conceito.

A P.A.D.A. sempre esteve de portas abertas aqueles que estavam disposto em participar da equipe, não só em publicar no fanzine Prismarte, mas dispostos em trabalhar ativamente para concretização do sonho em tornar-se um quadrinhista. Nesses quase quarenta anos de publicação, a campanha HQ Agora É Arte! ainda ecoa dentro de cada componente que viveram aquele momento.

Muitos que se foram, alguns retornaram, porque o sonho não acabou para estes. E a P.AD.A. sempre manteve acesa a filosofia de portas abertas para o novo.

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Comentários

  1. Temos que respeitar. Quarenta anos não são quarenta dias. Parabéns!

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  2. Muito bom relembrar todos esses momentos, eu nem lembrava mais dessa capa. É bom rever nossas história.

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  3. Sou eu Jaidelson, muito bom ler essa matéria sobre essa trajetória nesses anos. Eu nem lembrava mais dessa capa.

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    1. Temos que registrar nossa história para as próximas gerações.

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  4. O que foi descrito aqui corresponde fielmente esse ano de 1998. Inicio de formação de amizades que duram até hoje e outros que sucumbiram na caminhada da arte dos quadrinhos.

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