Um breve painel sobre como era ler
histórias em quadrinhos há 30, 40 ou 50 anos, para o leitor de hoje.
Por José
Valcir
Editor e roteirista de quadrinhos
H |
ouve uma época que ler Histórias
em Quadrinhos era uma aventura. Lia-se histórias que começava e terminava na
mesma edição, como títulos do Fantasma, Mandrake, da Disney e da Maurício de
Sousa Produções. Foram momentos muito bons, que nos faziam aguardar com
ansiedade as próximas edições.
Com o
surgimento dos super seres, através das republicadoras da DC e Marvel, descobriu-se
as sagas cujos eventos nunca se encerrava numa única edição, mas que se
perpetuavam em edições subsequentes. Essa fase romântica encerrou-se com a
chegada da Panini e Amazon no mercado nacional, para ficar entre as mais
conhecidas.
É. Hoje comprar edições completas e encadernadas pela internet
tornou-se o novo hábito dos leitores. Não há mais espaço e nem tempo de ir até
à banca mais próxima ou loja especializada para verificar se aquela edição tão
esperada chegou. Como o Demolidor vai derrotar o Rei do Crime, Fisk, depois que
o segredo do Homem sem Medo foi revelado? Será que o Batman salvará a cidade de
Gotham de mais uma ação do Coringa? E o Super-Homem derrotará o Darksaid? Capitão
América dará mais um discurso patrioticamente motivador.
Perguntas e certezas como essas eram debatidas entre os leitores
quando, eventualmente, encontravam-se nas bancas, pois as amizades eram
formadas nesses lugares, quando as pessoas encontravam com outras com os mesmos
gostos. Alguns felizardos conseguiam fazer assinaturas, mas nem todos eram
afortunados, e, sinceramente, não era importante porque, no fim, estavam todos
no mesmo balaio.
Os debates, sempre acalorados, permeavam sobre tal personagem ou
história. Quem era o melhor roteirista ou melhor desenhista. A cena mais bem
desenhada ou o soco mais bem dado. Quem era mais forte: Hulk ou Super-Homem?
Não havia preocupação sobre quem sabia mais sobre o quê. O que importava era
está ali, reunido, algumas vezes regrado a refrigerante, pipoca e sanduíche,
mas muitas vezes acompanhada de risadas e fortalecimento de amizades.
Ah! Outro ápice da revista era a seção de cartas
cujas opiniões e críticas dos leitores eram publicadas. Era um local tão divertido que a editora
Abril criou o Troféu Cata Piolho, e a pessoa que escreve esse artigo informa,
orgulhosamente, ter sido um dos ganhadores (rs). Claro que o troféu era mera
brincadeira, contudo, instigava o leitor a buscar furos de roteiro ou de
edição. Conseguir que a carta fosse publicada ou aparecesse na lista de
leitores do mês era um feito de se orgulhar. Sentia-se que estava no panteão
dos leitores especiais porque sua carta foi escolhida entre todas, publicada e
eternizada. E a Editora Abril mandava uma carta para o leitor, mesmo que fosse
padrão, agradecendo. Eu mesmo recebi a minha, que li e reli.
Sim, foram tempos áureos. O leitor hoje está resumido
a um consumidor e acumulador de revistas, livros, bonecos (action figures),
filmes e séries. A ida a biblioteca ou adquirir livros e revistas
especializadas, para tomar conhecimento sobre a História em Quadrinhos, no
Brasil e no Mundo, era o mais comum. Na atualidade, são vastos os canais,
blogues ou saites que tratem desse assunto. Entretanto, na sua maioria, falam
de produções norte-americanas ou mangás, pouco ou nada sabemos sobre o que se
produz fora desse eixo. Mas essa questão é tema para outro artigo e merece a
devida atenção.
Ler histórias em quadrinhos até meados dos anos noventa era dessa forma. E o fascínio que gerava com a interação entre leitores, dava com o surgimento de produções independentes como foram os fanzines. Os tempos são outros e devemos nos adequar ao novo momento, sem esquecer como outrora fomos. Pois, sem entendimento do passado, não compreenderemos o presente e nem projetaremos um futuro.
Seja bem vindo ao mundo dos blogs, Valcir. Suas publicações certamente serão relevantes aos seus leitores, com o potencial para se tornar uma referência ao mundos dos quadrinhos, especialmente no cenário independente. Muito me alegra, sua chegada. Parabéns
ResponderExcluirParabéns Valcir! Aqui escreva sua historia!
ResponderExcluirÉ uma análise interessante. Acho que um dos fatores que contribuíram para essas mudanças foi a evolução da tecnologia, principalmente no que se refere a disponibilização das mídias pela internet.
ResponderExcluir